Pedro Burgos é formado em jornalismo e escreve sobre tecnologia desde 2004, chegando a ser em 2008 editor-chefe do Gizmodo Brasil, o maior site independente de tecnologia de consumo. Em seu primeiro livro, Burgos faz uma profunda reflexão sobre a maneira como as pessoas estão utilizando a permanente conexão com a internet, seja em um computador, tablet ou smartphone.
Um dos primeiros assuntos abordados, que na minha opinião é o mais preocupante, são os indícios que levam a crer que as pessoas estão “viciadas” em internet, celular, jogos, etc. A palavra “vício” não é adequada em termos de diagnóstico médico, mas ela é usada no livro para falar sobre as relações obsessivas com as tecnologias conectadas.
Certamente você consegue pensar rapidamente em um amigo ou familiar que possui este tipo de problema (caso você mesmo não o tenha). É cada vez mais comum vermos pessoas que verificam o celular de cinco em cinco minutos em busca de atualizações no WhatsApp, ou pessoas que passam dezenas de horas em jogos online ou fuçando no perfil dos amigos no Facebook.
A crítica do livro não é sobre as tecnologias ou nos aplicativos em si, mas sim no mau uso que fazemos deles.
A internet nos ofereceu um mar de possibilidades, e o que fazemos com ela? Gastamos um terço do tempo online apenas nas redes sociais, clicamos em sites com notícias desimportantes e em vídeos poucos engraçados. No fim do dia, tal como a peixe Dori de Procurando Nemo, não nos lembramos do que fizemos.
Ao longo do livro o autor analisa diversos aspectos da nossa relação com a tecnologia e os problemas que o mau uso dela pode ocasionar. Em um dos exemplos ele conta da época em que postava nas redes sociais tudo o que acontecia na sua vida, e quando encontrou um amigo próximo quis contar sobre sua incrível viagem ao Japão, mas o amigo mostrou-se totalmente desinteressado por já ter visto tudo no Facebook. As pessoas que expõem demais as suas vidas nas redes sociais, estão perdendo o fator “quais as novidades?” de uma boa conversa. Além, é claro, de outros perigos como perda de privacidade e pessoas que colocam em risco a segurança da sua família.
Tenho notado cada vez mais as pessoas dizerem que o filho ou neto é muito inteligente por que aprendeu sozinho a “fazer tudo” no celular. Burgos também percebeu isso e nas suas pesquisas descobriu que crianças pequenas possuem fascinação por qualquer coisa que o papai e a mamãe fazem, então, se as crianças veem os pais tempo demais com um celular, é ali que elas vão ter interesse.
Ao estarmos sempre conectados, no WhatsApp, por exemplo, deixamos de lado nós mesmos. Sem percebermos, temos à nossa volta uma multidão que recorrentemente querem a nossa atenção, eliminando dessa forma muitas oportunidades de ficarmos com nossos próprios pensamentos em momentos de reflexão. Não é raro as pessoas dizerem hoje que tiveram grandes ideias ou tomaram decisões importantes quando estava tomando banho, pois o chuveiro é um dos últimos lugares que realmente estamos sozinhos, sem a interrupção de qualquer pessoa e sem notificações de mensagens.
Ainda sobre estarmos sempre disponíveis nas redes sociais, Burgos afirma:
…a nossa constante disponibilidade para os outros é apenas mais uma manifestação do nosso insuportável narcisismo. Pensamos que somos tão imprescindíveis que temos que estar presentes 24 horas por dia na vida alheia. E vice-versa: pensamos que somos tão importantes que outros têm de estar permanentemente disponíveis para nós.
Neste manual para a vida digital saudável existem vários outros pontos interessantes que chamaram a minha atenção, como, por exemplo: o preço da privacidade, excesso de informação fast-food, discussões com trolls, economia da publicidade, o problema da pirataria e o conceito inicial de “precisamos fazer isso mais vezes”.
Embora a maioria dos exemplos abordados mostrem o lado prejudicial da tecnologia na vida das pessoas, não há uma dicotomia nessa questão, tudo depende da forma com a tecnologia é utilizada. Um iPad, por exemplo, pode ser usado para manter contato com pessoas próximas que estão morando em outro país, ou pode ser usado como um “computador de cama” que exibe vídeos e mais vídeos de gatinhos. Um smartphone com internet 3G pode roubar constantemente a sua atenção (notificações do WhatsApp) em uma importante palestra, ou pode liberar você de ficar “preso” até mais tarde no escritório para chegar a tempo de jantar com sua família. É você quem escolhe!
Enfim, se fosse para resumir em um único paragrafo o livro, diria que conecte-se ao que importa é uma profunda reflexão sobre a importância de utilizar a tecnologia de forma mais seletiva, com o objetivo de melhorar nossa qualidade de vida.